4o Seminário de Educação Escolar Indígena discute Educação escolar da região Táwa.

Participantes do 4o Seminário de Educação Escolar Indígena realizada entre os dias 10 a 12 de abril em São Gabriel da Cachoeira.
Participantes do 4o Seminário de Educação Escolar Indígena realizada entre os dias 10 a 12 de abril em São Gabriel da Cachoeira.

Mais um seminário realizado. O 4o seminário de Educação Escolar Indígena foi realizado na Casa dos Saberes da FOIRN em São Gabriel da Cachoeira, nos dias 10 a 12 de abril. Evento que reuniu 145 participantes, entre estes, professores, gestores de escolas e lideranças, representantes das instituições locais como a SEDUC, SEMEC, ISA (Instituto Socioambiental), Prefeitura, APIARN (Associação dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro), COPIARN (Conselho dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro)  de Táwa, como é conhecido a região que abrange a cidade e comunidades próximas.

Nos primeiros dois dias foram relatadas experiências de trabalhos voltadas para a valorização da cultura e conhecimentos tradicionais nas escolas da cidade. O ponto forte destacado foi a utilização de uma das línguas co-oficializadas no município, a língua Nheengatú. A Gestora da Escola Municipal Dom Miguel Alagna, Micaela Hilário Gama, disse que apenas uma das línguas co-oficializadas faz parte da grade curricular, o Nheengatú. As outras duas (Baniwa e Tukano), não são ministradas devido a falta de professores falantes dessas línguas no quadro de professores da escola.

O debate entorno da valorização da cultura e de identidade nas escolas da cidade foi significativo, uma vez que, de acordo com algumas professores e gestoras, algumas crianças, sentem dificuldades na afirmação de sua identidade étnica na escola. “Algumas vezes, mesmo sabendo que aquela criança é de tal etnia, ela diz ser de uma, que não é. Por isso, preciso conscientizá-los da importância da afirmação de identidade. Mas, isso, deve também ser trabalhado junto com os pais, pois, é de lá que eles vem, e alguns pais não querem ou sentem-se envergonhados de afirmar sua identidade”-disse a gestora da escola Thiago Montalvo.

A escola municipais que participaram do Seminário foram: Thiago Montalvo, Creche Irmã Sandra Henry, Dom Miguel Algna.

Entre as escolas estaduais convidadas, apenas compareceu e participou do evento a Escola Estadual Sagrada Família, que teve como representante, a pedagoga e Gestora em exercício, Quelma da Silva Otero, que defende que as escolas da cidade devem levar aos seus espaços a valorização das línguas e da cultura dos povos que vivem na região, já que são escolas, onde os estudantes na maioria são indígenas. E lamentou a ausência dos gestores das demais escolas estaduais. Outra recomendação feita pelas representantes das escolas da cidade, é que as instituições locais, devem disponibilizar arquivos e bibliotecas para os estudantes acessar informações em caso de pesquisas e outras atividades escolares que tiverem como tema a cultura, a educação escolar indígena, o movimento indígena entre outros.

As escolas das comunidades próximas da cidade, que tiveram como representantes professores e algumas lideranças, relataram que a valorização de cultura e das línguas faladas nessas comunidades já fazem parte das práticas pedagógicas, mas, de acordo com as exposições e depoimentos, há falta de materiais didáticos voltados para apoiar essas atividades. Quanto a estrutura escolar (prédio) são precários e materiais precisam melhorar.

As escolas das comunidades próximas que participaram do evento foram: São José, Boa Esperança, Itacoatira Mirin, Don José Song, Baré Mirin e Nossa Senhora das Mercês.

O IFAM-Campus São Gabriel da Cachoeira, que além de apresentar as atividades voltadas para a valorização da diversidade do Rio Negro, o Diretor Geral, Elias Brasilino, destacou que as mudanças que vem acontecendo nos últimos anos, tanto na estrutura organizacional e quanto nas atividades pedagógicas são resultados da participação do movimento indígena do rio Negro. E relatou ainda que constatou nas viagens realizadas nos últimos anos para algumas comunidades da região,  que a condição de muitas ou quase todas as escolas está em condição precária.

Representado pelo professor Raimundo Nonato Pereira da Silva, vice-coordenador do Curso Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável,  a Universidade Federal do Amazonas, apresentou de forma resumida e sistemática a atuação na região do Rio Negro, em especial no município de São Gabriel da Cachoeira. De acordo com o professor, apesar de a universidade atuar há algum tempo, práticas direcionadas para a valorização da diversidade do Rio Negro, se deu através do Curso de Licenciatura Intercultural (Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável). Mas, disse que a atuação junto aos povos indígenas, no que diz respeito de como os cursos são oferecidos precisa melhorar, que a formação continua sendo indigenista e não indígena, como deve ser. Nos debates que aconteceram entorno da participação da UFAM na formação de professores indígena no Rio Negro, exigiu o fortalecimento da parte do controle social das instituições, como a FOIRN.

Para a troca de experiências entre os participantes, o André Baniwa, um dos coordenadores do evento, apresentou a experiência da educação escolar Baniwa e Coripaco, desde os passos iniciais de implantação aos resultados conquistados até agora. E lembrou que as conquistas alncaçadas até agora pelo movimento indígena ou pelas escolas indígenas, só se concretizaram pela busca, luta e construção coletiva. Fez ao longo de sua exposição, como durante o evento, questionamentos para promover reflexão sobre a situação atual da educação escolar indígena e que futuro os participantes querem para os filhos.

Nildo Fontes, Diretor da FOIRN, disse que, se é preciso mudar a legislação ou sistema para melhorar a educação escolar indígena a luta precisa se fortalecer e que os seminários realizados, propõe isso, identificar o que está faltando para a educação escolas melhorar. Para isso, de acordo o diretor, é fundamental a participação de todos, e a discussão e os debates devem ser permanentes. “Se muitas coisas mudaram até aqui (para melhor) em educação, saúde e em outras áreas), é por que lutamos por essas mudanças. Não é agora que vamos ficar parados diante dessas demandas e necessidades de mudanças para melhorar a educação escolar”- disse.

Os dados completos do evento, como os encaminhamentos (problemas e propostas de melhorias) serão sistematizados para o Seminário Regional, previsto para o mês de junho, que vai reunir representantes de todas as regiões onde já aconteceram os seminários internos.

Participantes do Seminário da região Táwa, que reuniu professores, gesrtores (as) de escolas da cidade e comunidades próximas.
Participantes do Seminário da região Táwa, que reuniu professores, gesrtores (as) de escolas da cidade e comunidades próximas.

O 4o Seminário de Educação Escolar Indígena foi realizado pela FOIRN e a Fundação Nacional do Índio (Funai), em parceria com o Instituto Socioambiental, e faz parte do “Projeto Seminários de Educação Escolar Indígena como sistema e processo próprio de aprendizagem no âmbito do Território Etnoeducacional do Rio Negro – TEERN”, lançado oficialmente na Casa dos Saberes da FOIRN, no dia 21 de janeiro, e já realizou seminários em Itapereira, Tacarúa – Médio Waupés, Iauaretê – Alto Waupés e Papuri, e ainda vai realizar mais outras cinco (Barreira Alta- Tiquié, Santa Cruz do Cabarí – Rio Japú, Guadalupe – Rio Ira, Barcelos – Baixo Rio Negro e Waruá – proximidades de São Gabriel da Cachoeira).

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